November 18, 2004

enrola-me um, por favor

O nosso aterafadíssimo governo acaba de fazer mais uma: vai proibir o tabaco nos locais de trabalho, bares e discotecas, segundo o Público.

Sai mais uma medidinha politicamente correcta!

Já aqui me pronunciei sobre o fumo, mas creio que vale a pena reforçar a ideia. Tal como disse, tenho perfeita consciência da anormalidade que é o acto de fumar. Mas é uma escolha minha, que tenho direito de exercer enquanto fumar for legal e enquanto o nosso governozito continuar a arrecadar dinheiro com os impostos sobre os filtro, lights, 100's e afins.

Quanto à proibição de fumar no local de trabalho só tenho a dizer o seguinte: desculpem lá mas a empresa é minha, quem paga o aluguer do escritório sou eu e portanto vão-se catar. Não estou nem aí para as proibições sem sentido.

Quanto à proibição de fumar nos outros locais o caso é diferente: se bem me lembro, o consumo de drogas foi despenalizado, isto é, a autoridade perde o nome quando encontra um rapaz a chutar heroína que nem um turco. E vão-me chatear por estar a fumar? Devem estar a gozar, no mínimo.

Creio que um ministro da saúde digno desse nome se deveria dedicar a outras tarefas, menos fáceis e mediáticas, mas mais meritórias. Talvez pensar em reduzir listas de espera nos estabelecimentos de saúde públicos. Ou, em articulação com outros ministérios, criar soluções que coloquem mais profissionais de saúde no mercado. Ou, ainda, criar formas de financiar sustentadamente os hospitais e centros de saúde existentes, para não serem a miséria que são, digna de qualquer país subsaariano. Ou pensar na criação de uma rede de hospitais que verdadeiramente cubra todo o território nacional e toda a população. Ou acabar com o corporativismo na classe médica, que mina todo o sistema e impede, por exemplo, a atribuição de culpa nos casos de negligência.
São meros exemplos, que me ocorrem sempre que olho para o triste estado da nação.

Tão grave, ou mais, que o fumo exalado pelo portuga é o nível a que se deixou chegar o consumo de álcool, principalmente nas camadas mais jovens. Será por álcool derivar do árabe alkohul, que significa coisa subtil, que o governo não dá pelo problema? Tanto ou mais grave que o fumo é o consumo de drogas químicas "às resmas" que se verifica nas discotecas dos grandes centros. Será que este problema não merece a atenção do ilustre governante porque, sendo uma droga química, é problema do ministério da ciência e tecnologia?

Poupem-me...

O mais grave, quanto a mim, não é a medida em si. É aquilo que ela demonstra: temos um governo superficial, um governinho cinha jardim, que apenas se preocupa em ficar bem na fotografia, que não toma nenhuma medida de fundo por não ser mediático, por dar muito trabalho sem render votos, por exigir rigor e sacrifícios.

Com tanto eclipse e chuva de meteoritos, não haverá cataclismo natural que varra esta cáfila de imbecis do nosso panorama político? É que assim não vamos longe (nota para as vítimas do nosso sistema de educação: cáfila = a conjunto de camelos).

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