October 27, 2004

pergunta de algibeira


Porque é que as mulheres são umas cabras umas para as outras?

europeus de gema

Pelos vistos, todos os portugueses são europeus de gema. Ou, melhor dizendo, os europeus são portugueses de gema. Ou, melhor (pior) ainda, os políticos deles são como os nossos.

Houve um pobre candidato a comissário europeu, da equipa do nosso ex-primeiro, que caiu na asneira de responder honestamente a uma pergunta da seguinte forma: "I may think that homosexuality is a sin, and this has no effect on politics, unless I say that homosexuality is a crime". Não sei qual foi a pergunta feita ao senhor Rocco Buttiglione. Também não interessa muito. Mesmo que fosse "o que acha da pesca do bacalhau na noruega", a resposta era válida. Aquilo que o senhor diz é, pura e simplesmente, que o que ele pensa sobre um tema, de uma forma pessoal, não influencia as suas acções políticas. E, claro, foi punido pelos ilumminati europeus por dizer o que pensa.

A única razão que justifica a punição - a recusa em aceitar Buttiglione para a comissão - é a de não ser politicamente correcta. Tal como cá no burgo, não interessam pessoas com convicções e, principalmente, que as afirmem abertamente.

Quanto a mim, a homossexualidade não é um pecado. Nem o assalto à mão armada. Nem o José Castellllo Branco. Porque para mim nada é pecado: sou ateu - ferrenho, como os benfiquistas. Mas tenho de saber respeitar a opinião pessoal do tal Rocco Buttiglione porque, numa sociedade como a nossa, sou moralmente obrigado a respeitar as opiniões pessoais de cada um, por muito opostas às minhas que sejam. Aquilo que espero em contrapartida é que o amigo Rocco não se deixe influenciar pelas suas convicções morais no momento em que toma decisões políticas. Tal como todos os católicos, islâmicos e budistas esperam que um qualquer comissário não se lembre de ilegalizar os locais de culto só porque é ateu.

Os deputados europeus deram um triste exemplo à população europeia em geral: se não és do nosso clube, não podes brincar connosco. Vai ter piada se a Turquia se juntar ao clube dos 25 (ou 28 ou seja lá o que for - a europa já parece um autocarro de dois andares londrino: entrem todos que há sempre lugar para mais um). Se uma religião traz estes pequenos percalços, então quando houver outra metida ao barulho vai ser um ai-jesus... ou ai-maomé.

É melhor não considerarem a adesão da Índia, porque só demónios são mais de trezentos...

October 26, 2004

prisa

O Público de hoje traz uma notícia sobre a qual já não ouvia falar há uns tempos: o julgamento dos famosos guardas da GNR do Algarve chegou ao fim, tendo sido uns condenados e outros não. Fim. Ou não, conforme os apelos dos advogados de defesa etecetera e tal.

Já era tempo.

O engraçado disto tudo é que há cerca de três anos ou coisa que o valha a imprensa não falava de outra coisa: eram guardas corruptos de Faro, de Fornos de Algodre e de Santa Maria do Assobio. A forma como pintavam a coisa levava qualquer portuga a ver um GNR e a fugir a sete pés, tal era a dimensão da corrupção. Clamavam por Justiça e exigiam ao poder político que fizesse rolar cabeças nas chefias, nas sedes dos partidos e na Junta de Freguesia de A-dos-Cunhados. Depois calaram-se. Veio outro qualquer escândalo e, mirabile visu, deixou de haver problemas na gênêrrê.

A nossa imprensa, escrita ou não, é divertida, não é?

Mas a ler o artigo (lido cruzado, como em tudo na net), vi um pedacinho que me chamou à atenção: o sargento que supostamente era o cabecilha afirma em lágrimas que "é verdade que recebi prendas no Natal, mas não me prendam por extorsão, porque eu nunca na vida extorqui ninguém [estando preso] há 31 meses".
Gosto do pormenor das prendas de Natal. Mas... e se fosse inocente? 31 meses - trinta-e-um - em prisão preventiva? Se fosse inocente, como é que o Estado corrigia o errozito judiciário? Dizia-lhe "Desculpe lá o mau jeito" ou "Não leve a mal. De qualquer modo foram três anitos sem gramar a Maria"?

Como é que num estado de direito alguém está preso preventivamente, sem culpa formada, durante três anos? Será que ninguém no poder ainda percebeu que a Justiça é a base da Democracia?
Sem o pressuposto da Justiça igualitária, funcional e eficaz não há base que sustente o sistema democrático. Não são as eleições quadrianuais que fazem uma democracia: é a Justiça. É isso que distingue a Alemanha do Brasil.

Se a Educação é a base do desenvolvimento de um país, a Justiça é, por outro lado, a ferramenta que torna a democracia possível. Sem estes dois pilares nenhum país se pode arrogar o direito de afirmar democrático e desenvolvido. Pode o nosso?

October 22, 2004

fumo

A União Europeia vai solicitar aos estados membros que coloquem nos maços de cigarros imagens chocantes como cadáveres ou seringas. Vai também solicitar que os vários estados sigam o exemplo da Irlanda e Suécia e proíbam o fumo em restaurantes, bares e nos locais de trabalho.

Bom.

Comecemos pelo princípio.

Eu fumo. Muito. Tenho consciência que sou uma besta quadrada em fazê-lo. Estou-me a tirar anos de vida só para ter o prazer de exalar fumo como um paquete e de ter um hálito semelhante ao de um dromedário.
Como qualquer fumador assumido, não é uma imagem de um pézito com uma etiqueta que me vai fazer parar de fumar. Ou de uma seringa. Tal como a mensagem "FUMAR MATA" impressa no maço de tabaco não o fez. Vai, concerteza, obrigar-me a comprar uma cigarreira. Ou um daqueles sobremaços que se vendem nos CTT (uma empresa que pertence à entidade que manda imprimir as mensagens nos maços... chama-se a isto ganhar dos dois lados).

Por outro lado, sou dono de uma empresa. Pequenina mas orgulhosa. Se o Estado tentar proibir o fumo no meu local de trabalho, vai ter uma surpresa fantástica (mais ou menos a mesma quando tenta que eu pague os impostos a horas).

Só deixarei de fumar quando me apetecer.
Quanto a proibições, só as acatarei quando o Estado deixar de ser hipócrita: deixe de receber impostos sobre o tabaco vendido, e encare o tabaco como uma droga, tal como faz com a heroína, proibindo por completo a sua comercialização.

Por agora, fumo onde me der na real gana, tentando incomodar o menos possível quem me rodeia. Tendo em conta que estou perfeitamente consciente daquilo que fumar provoca, e que não estou a fazer nada de ilegal ou sequer condenável pelo estado - que lucra com o tabaquito que eu inalo - continuarei a exercer o meu direito de livre escolha. Mesmo que seja completamente idiota ao fazê-lo. Mas se fôssemos sancionar todos os idiotas, metade da nossa classe política já estaria presa.

October 21, 2004

velharias




A Lomo Kompakt Automat e o movimento dela resultante, a lomografia, é um fenómeno estranhíssimo. Pelo menos para mim, que sou um bruto sem discernimento.
A Lomo é uma máquina, a acreditar no que diz quem a comercializa, desenvolvida em São Petersburgo (Leningrado para os amigos), pequena e robusta, com uma lente fantástica criada pelo Prof. Radionov (seja lá ele quem fôr - pelo nome é parente da Marie Curie), capaz de fotografias fantásticas. Em filme de 35mm. Para revelar em papel. A cores ou a preto e branco.

Associado à maquineta gerou-se um movimento, a lomografia, que supostamente tem como regras fotografar tudo, sem olhar ou pensar (o que normalmente faz qualquer amador de fotografia), e mais tarde partilhar os resultados com os outros lomógrafos (ou lomonautas).

O surgimento do "movimento" não é surpreendente. A sua razão de existência é, provavelmente, a mesma dos blogs: a necessidade de comunicar e de partilhar informação, seja ela qual fôr. O que é surpreendente, para mim, é o meio: uma maquineta antiquada e limitada em termos fotográficos, que obriga a conhecimentos mínimos de fotografia para sair alguma coisa de jeito.
Numa época em que as máquinas digitais estão banalizadas (até os telemóveis tiram já fotografias decentes), com facilidades óbvias para a transferência de imagens entre a máquina, o pc e a web, não faz sentido a existência do Lomosaurus. O formato digital faz o mesmo, melhor e de forma mais fácil e económica.

A única razão que encontro é alguma necessidade de pertencer à tribo. Não fazer parte da carneirada que tira fotos digitais (e assim, pertencer à carneirada que não quer fazer parte da carneirada que tira fotos digitais, como diria a Mafalda). E que, também, com a técnica de marketing correcta consegue-se vender tudo. Até frigoríficos aos esquimós.

Para ser justo, tenho de dizer o seguinte: a coisita é muito resistente (comprovado pelos testes internacionais do meu filho, que tira fotografias com a máquina e, a maior parte das vezes, a deixa cair ao chão) e tira fotografias decentes, permitindo efeitos engraçados causados pelos defeitos da própria lente.

Confesso: Aderi. Não sei porque carga d'água.

cristo

Soube há pouco que o Jesus Christ Superstar está em cena cá no burgo. Não sabia. Do Cats sabia (vá lá).

Apesar de estar um bocadito atrasada (estreou-se em 1971 em Nova Iorque), vale a pena ver. Se a companhia de teatro de Brno for boa, o que não faço a mínima ideia se o é ou não.

Vi a peça em Londres (em 1974... sou velho) e, apesar da minha tenra idade, fiquei deliciado. Vi mais tarde a adaptação para cinema (em Lisboa, desta vez), confirmando a minha opinião inicial: é uma peça excepcional, tanto musicalmente como em termos de "argumento".

A peça fascina-me não apenas pela sua encenação e música, mas também pelo tema em si. Como qualquer ateu que se preze, o fenómeno religioso surpreende-me e fascina-me sempre. Por isso, acabo por ver sempre tudo relacionado com o tema, desde Os Dez Mandamentos, com o Charlton Heston e as suas barbas de algodão doce, à Paixão de Cristo - o primeiro gore movie religioso que vi até hoje.
Não que os filmes, ou os livros como o de José Saramago, me ajudem muito a compreender o fenómeno religioso, mas ajudam a compreender o que a religião significa para os fiéis, pelas reacções que causam entre as fileiras de crentes - como aconteceu com o Sr. Krus Abecasis e o Je Vous Salue Marie, de Godard. Revelam muitas vezes que a tolerância de um católico fervoroso a visões alternativas do mito religioso é semelhante à de um qualquer fundamentalista islâmico.

October 18, 2004

a importância de se chamar Ernesto


che



Ernesto "Che" Guevara era um revolucionário, que lutava pelo ideal comunista. Não por aquilo em que o comunismo se transformou, mas pelo ideal comunista. O seu maior feito foi, talvez, a revolução cubana, executada em conjunto com Fidel Castro e uma enorme massa humana anónima. As circunstâncias da sua execução em Vallegrande, na Bolívia, praticamente endeusaram-no para toda uma geração. Tornou-se um ícone.

Ironicamente, a forma como sobreviveu ao tempo é a antítese de tudo aquilo em que acreditava. A sua imagem serve apenas como decoração em canecas, t-shirts, cartazes e pins. Esquecemo-nos completamente do homem que teve a coragem de lutar e pagar com a vida por um ideal - certo ou errado, não interessa - e guardámos aquilo que não interessa: a imagem romântica do guerrilheiro.

October 15, 2004

Le Baiser de l'Hotel de Ville

Por vezes uma imagem vale mesmo mil palavras. Merci, Robert.





zoo



Quando era miúdo adorava ir ao jardim zoológico. Enquanto tirava o curso, fui obrigado a ir ao zoo por diversas vezes, para desenhar leopardos, elefantes, girafas e outros animais - os desgraçados nunca paravam quietos: deitavam-se, levantavam-se, rugiam, faziam xixi (garanto-vos, ver um rinoceronte a fazer xixi é traumático) e outras animalidades do género. Acabei muitas vezes a desenhar árvores... eram bem mais sossegadas.

Mais tarde, continuei a ir ao jardim zoológico, não só para ver os bichos, mas também para observar outro bicharoco: o ser humano. As reacções das pessoas perante os outros animais são divertidissimas: riem, gritam, atiram comida, chateiam, apontam e por vezes ignoram. A maior parte das vezes comportam-se como se fossem os reis da Criação, dando-se ares de superioridade asinina. Essa é a parte que me deprime nas idas ao zoo.
É divertido ver o ar de segurança completa que lhes dá uma vala ou uma grade: encostam-se onde não se devem encostar, esticam-se para tentar agarrar os bigodes de um felino qualquer ("Ó Maria, é só um gatito, pá! Dá aí o nougat pr'ó gajo abrir a boca"), sem respeito nenhum pelos animais. De vez em quando apanham uns sustos valentes, como a abençoada mãezinha do miúdo da fotografia, que foi da calma absoluta à histeria completa em menos de 3 segundos.

Ainda hoje lá vou, agora com as minhas crias, para estas poderem sentir o cheiro e, por vezes, o toque daquilo que só normalmente vêem no Odisseia ou no Discovery. E ainda hoje me faz confusão ver os chimpanzés, com o seu olhar inteligente e quase humano. Lembram-me sempre que a linha que nos separa deles é demasiado ténue, que é apenas por um acaso da bendita Evolução que somos nós que estamos do lado de cá das grades.

October 13, 2004

vive la difference




No site da France Presse lê-se o seguinte:

"Le Premier ministre Jean-Pierre Raffarin a annoncé mardi que le projet de loi sur l'école serait présenté en Conseil des ministres "fin décembre" ou "début janvier" et ensuite inscrit à l'ordre du jour du Parlement "de manière prioritaire" pour entrée en vigueur à la rentrée 2006.

Jean-Pierre Raffarin a précisé lors de la présentation à Matignon du rapport Thélot que la future loi sur l'école serait "une loi d'orientation" mais "également une loi de programmation fixant des perspectives à 15 ans".

La commission Thélot sur l'avenir de l'Ecole préconise un avancement de l'âge de la scolarité obligatoire "à 5 ans" et une réforme du lycée passant notamment par un rétablissement de l'orientation en fin de 3e, selon une synthèse du rapport remis mardi au Premier ministre.

La commission Thélot préconise également pour les enseignants récemment recrutés "un allongement du temps de présence dans l'établissement scolaire (...) à prendre en compte dans leur rémunération".

Le rapport de la commission sur l'avenir de l'école doit servir de base pour la rédaction du projet de loi.

"J'attends avec beaucoup d'impatience votre rapport sur lequel je m'appuierai pour préparer cette loi dont notre système éducatif a bien besoin", avait déclaré, le 6 avril dernier, le ministre de l'Education nationale, François Fillon, alors que Claude Thélot et les 45 membres de la commission se mettaient au travail. Il revient au ministre de rédiger le projet de loi, qui doit se substituer à la loi d'orientation de 1989, dite "loi Jospin"."

Não me apetece traduzir isto tudo, mas há aqui umas frases engraçadas, quase podendo ser consideradas alienígenas em Portugal: um plano a 15 anos (quinze, senhores, quinze); um avanço da idade escolar obrigatória em 5 anos; uma lei inscrita para aprovação no Parlamento de modo priotário (parece que a educação por lá tem alguma importância).

Tendo em conta que a comissão que preparou o estudo que dará origem à lei iniciou os seus trabalhos a 6 de Abril último, e tendo por comparação os métodos por aqui praticados, dá vontade de dizer muitos palavrões seguidos, daqueles que fazem corar as meninas da Avenida, por termos os políticos que temos.

October 11, 2004

dub dub dub

O Público de hoje, no Caderno de Computadores, traz um artigo surpreendente, onde se afirma que a web vai acabar tal como a conhecemos. Afirma-se no artigo que "[a web] morreu ou está a morrer, cheia de vírus (informáticos) e de pornografia".

HA!

A web é o sucesso que é pela sua liberdade, pela inexistência de barreiras ou censura. É apenas isto a causa do seu sucesso. Evidentemente que esta liberdade tem um preço: neste caso os vírus (que não me afectam minimamente), a pornografia (no comments), a expressão de pontos de vista extremistas (não-interessa-quem über alles) e outros "sítios" divertidos onde se aprende a fabricar as coisas mais incríveis, desde cocktails molotov a mísseis terra-ar (passando pela receita de pato com banana).

Tentar criar barreiras na web é o mesmo que a exterminar. A maior parte dos sites lucrativos na web são os de cariz sexual porque é o que as pessoas (leia-se os homens) querem. Porque ali têm a privacidade e os conteúdos necessários para darem largas às suas taras e desejos. Basta passear num open space de um escritório depois das 7 da tarde para ver a quantidade de gestos frenéticos para desligar o monitor ou mudar de aplicação. Não deve ser por estarem a ver o site oficial do Vaticano concerteza.

Com todos os seus defeitos, a web é uma ferramenta de comunicação fabulosa. Infelizmente, não é um meio eficaz para as grandes empresas passarem a sua "mensagem" (publicidade). Infelizmente, os Estados não a podem controlar, como a Coreia do Norte e outros países iluminados sabem bem, fazendo tudo para impedir que os seus cidadãos tenham livre acesso à "rede". Mas é o único meio de comunicação verdadeiramente democrata (para ser franco, é mais anárquico que democrático...), onde todos, de toda a parte, podem comunicar e interagir livremente. Se o preço a pagar são meia dúzia de vírus ou umas quantas senhoras (e homens... e papagaios...) a agasalhar-o-palhacinho, creio que vale o preço.

October 09, 2004

Amália

Fez cinco anos que Amalia Rodrigues morreu. Não sabia. Soube-o pelo Acidental. Por muito que se diga de Amália, não creio que se possa dizer o que é dito nesse blog: que Amália foi o único génio (génia?) da música portuguesa.

Amália foi uma excepcional intérprete de fado. Como foi Hermínia Silva. E Alfredo Marceneiro. Talvez neste campo tenha sido genial. Mas noutros campos musicais, houve outros intérpretes e compositores geniais: Carlos Paredes, Marcos Portugal, José Afonso, Freitas Branco, etc.

Não sei se o que define um génio é apenas a sua universalidade ou o seu reconhecimento generalizado, mas se formos comparar os nossos génios musicais com os verdadeiros génios reconhecidos como tal, como Beethoven ou Mozart, Wagner ou Bach (para falar só nos clássicos), temos de ter a humildade de reconhecer que os nossos são-no apenas à nossa escala. "Génios", por estes padrões, poderemos tê-los na literatura, como Camões ou Pessoa, ou na pintura com Vieira da Silva e Almada, mas é só. Não temos nem nunca tivemos cultura e educação musical para produzir verdadeiros génios.

Nada impede, no entanto, de afirmar que Amália foi, realmente, excepcional.

October 08, 2004

a escrita em dia




Tinha de ser. Eu tinha mesmo de perguntar isto. Era inevitável. A minha curiosidade há-de ser a causa da minha morte. Porque é que os blogs têm tanta aderência? E porque é que raio é que eu blogo? E porque é que eu aderi tão facilmente ao neologismo (eu blogo, tu blogas, ele bloga, vós blogais senhor, nós blogamos, eles blogam)?

O que leva as pessoas a escreverem aqui, a exporem por vezes a sua intimidade, a emitir opiniões sobre tudo e nada?
O ser humano tem uma necessidade compulsiva de comunicar, de opinar, quer seja por palavras quer seja com um pau na mão (não, hoje não vou martirizar o sr. Bush). Se aliarmos esta necessidade ao anonimato permitido pela net, temos parte da resposta. Mas não creio que chegue.

Muitos dos blogues portugueses que encontro são de opinião social, tanto da parte de "notáveis" como o José Pacheco Pereira com os seus brilhantes abrupto e veritas filia temporis (uma grande verdade, já agora), como de ilustres cidadãos anónimos, como eu. O que me leva a depreender que há um fantástico deficit de comunicação em Portugal. Porque a imprensa é o que é - em publicidade, muitos criativos tratam os media por merdia (lê-se mírdia), e acho que em parte é verdade - e porque a nossa jovem democracia é muito pouco participativa. Resume-se ao votito de quatro em quatro anos e chega para não cansar o neurónio do "povo".

Parece-me que as pessoas na sua grande maioria não encontram formas de expressar a sua opinião, de a comunicar "em massa", que, enfim, a sua voz não conta. Se considerarmos que os partidos políticos, que em teoria deveriam ser abertos a todos e todos poderiam dar a sua opinião, se fecham em torno das suas cúpulas e que raramente se abrem na realidade à sociedade, e que os meios de comunicação só se lembram da opinião das pessoas comuns quando há um desastre qualquer ("... então como te sentes agora que sabes que a tua família morreu toda na queda da ponte?" perguntou a jornalista da TVI a uma criança de Entre-os-Rios), creio que temos outra parte da resposta à minha pergunta.

Infelizmente, escrever um blog não conta. Não influencia nada. Pode talvez fazê-lo se formos o José Pacheco Pereira, mas este também tem acesso a outros meios de expressão, mais mediáticos. Tudo o que disser ou fizer tem algum eco na sociedade. Mas para nós, os normais, não conta na mesma. Mas faz bem ao ego, ver que há outros inconformados tal como nós.

October 07, 2004

imprensa livre

A propósito do "caso Marcelo", convém dizer o seguinte: quem acredita numa imprensa verdadeiramente livre, também acredita no Capuchinho Vermelho.

Todos os media são permanentemente alvo de pressões, quer externas como internas. Todos os governos, seja o nosso seja o de Sua Majestade Britânica, tentam pressionar e influenciar os media. Todos os grandes empresários tentam fazê-lo. Todos os partidos políticos, também.
A partir do momento em que os media são detidos por grandes grupos de comunicação, passam a estar sujeitos a pressões internas. As necessidades destes grupos em "favores" governamentais são enormes, para ganharem projectos na área de informação e noutras, fazendo pressão sobre as direcções editoriais para não maçarem quem manda.

Depois de nos apercebermos disto, para quê surpreendermo-nos com o "caso Marcelo"? O professor é incómodo, o Governo é composto em grande por aquilo que se vê, a Media Capital está metida em inúmeros negócios com empresas controladas pelo estado... a única coisa que me surpreende é o homem ter podido falar livremente durante tanto tempo.

É pena, no entanto. Apesar de não estar muitas vezes de acordo com o Professor Martelo, a sua voz crítica era muito útil. Como todas as vozes críticas e simultaneamente sensatas.

October 06, 2004

Educação

No Público de hoje podemos ler que "A ministra da Educação defendeu hoje na Assembleia da República uma redução da mobilidade dos docentes, de forma a criar maior estabilidade no sistema educativo, e avançou a hipótese de recondução de docentes nas escolas onde ficaram este ano".

Já no Diário Digital diz-se que "O Ministério da Educação vai apresentar três alternativas às escolas para poderem cumprir o programa lectivo até ao final do ano escolar. Uma das propostas visa o apoio pedagógico aos alunos".

Mais uma vez, reconhecem que puseram o pé na dita e estão a ter dificuldade em limpar o sapato. O que vale é que este tema só vai ser polémico até os media se lembrarem dele. Daqui a uns dias o ministro B ou C faz outra asneira qualquer, os media pegam nela e esquecem a primeira. E é como se deixasse de haver problemas com a Educação.

Como pai, começo a compreender a minha nebulosa decisão de colocar os meus filhos num colégio particular. Estrangeiro (ainda por cima sou pedante). As razões, que há seis anos eram um pouco incertas, tornam-se agora certezas: os meus filhos aprenderam a ler e escrever no kindergarten (é assim que se escreve, é), com cinco anos; o mais velho, agora na quarta-classe, aprende com uma facilidade enorme o nosso programa do 1º ano do ciclo (no meu tempo eram estas as nomenclaturas dos vários anos e raios-me-partam se vou mudar agora); desde os quatro anos que são bilingues; não tenho que me preocupar com violência ou droga dentro da escola; não gasto um avo em livros; a escola em si, apesar de estar em falta com alguns equipamentos básicos, é de uma higiene e segurança fabulosas.
Claro que há o reverso da medalha: pago uma mensalidade capaz de me endividar até ao ano 2158.

Infelizmente, sou obrigado a inúmeros sacrifícios porque o nosso Estado não cumpre uma das suas funções básicas. Sinceramente, não me apetece muito que os meus filhos sejam seriamente agredidos antes de terem idade para se defenderem. Também não me apetece que experimentem quaisquer drogas antes de saberem conjugar os tempos de verbos todos (ao menos que esperem até aos 16 anos, como o papá). Não me apetece, também, que acabem a primária ou o liceu como perfeitos iletrados.

Como pai (ir)responsável, quero que os meus rebentos tenham a educação necessária para poderem chegar o mais longe na sua vida adulta, enquanto pessoas. Para isso não posso contar com a Educação que o Estado providencia e tenho de o fazer por minha conta. Do mesmo modo que procedo quando tenho problemas de saúde. Ou de segurança. Afinal, pagamos impostos para quê?

Quando o Estado perceber que a Educação é a base do desenvolvimento do país, talvez faça aquilo que deve fazer: acabar com a dança anual de professores; avaliar os professores e as escolas no fim de cada ano lectivo; criar um programa de ensino estável, que não mude sempre o ministro lhe apetece, e que suporte um determinado modelo de desenvolvimento do país; criar livros escolares pensados, reutilizáveis de ano para ano; acabar com a escolha de carreira profissional dos alunos aos 14 anos e manter o "liceu" comum até ao 11º ano, atrasando essa escolha para idades mais maduras; iniciar o "programa profissionalizante" apenas no 12º ano, preparando a sério os miúdos para a universidade; avaliar os alunos regularmente, através de exames nos momentos críticos, ou seja, na 4ª classe, 2º ano do ciclo, 5º e 7º ano (trad. 4º , 6º , 9º e 11º ano).
São estas as soluções que me lembro, sem me cansar muito a pensar. Talvez haja outras. Sejam quais forem as soluções, são extremamente urgentes porque estamos a hipotecar de forma quase definitiva a hipótese de nos desenvolvermos. O desenvolvimento de um país não é representado por estradas, pontes ou túneis, ou por quaisquer bens materiais. O Desenvolvimento passa apenas pela qualidade de pessoas que um país contém. O resto vem depois. Naturalmente.

October 04, 2004

Res Publica


crown
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Faz amanhã anos, a República. Há 94 anos, mais precisamente, que Portugal é uma república - há quem diga que o é das bananas, mas isso não vem agora ao caso. Está consagrado na Constituição (não a parte das bananas). Não foi propriamente uma escolha popular, mas é o que temos.

De certo modo, faz-me uma certa confusão porque é que vivemos num sistema que não escolhemos, que nos foi imposto por meia-dúzia de iluminados. Pior ainda, faz-me confusão porque não nos é dada a oportunidade de ter uma palavra acerca disso; agora que se defende o referendo por tudo e por nada, do aborto aos preços da lixívia, porque não referendar o sistema que nos representa?

Não é que eu seja monárquico. Não sou. Basta ouvir falar o pretendente ao trono para qualquer monárquico ferrenho aderir à Carbonária e abater a tiro qualquer coisa que tenha o prefixo "Dom" agarrado. Mas porque não saber qual a opinião das pessoas (se é que a têm)? De vez em quando surgem (outros) iluminados a gritar "Real, Real, por el-Rei de Portugal" sempre que nasce mais um infante (mais ou menos 14 desde que o homem se casou)... quantos serão estes iluminados? 5% 10%? 80%?

O que eu pretendo dizer, desta forma desconexa, é que os habitantes deste país têm o péssimo hábito de se deixarem guiar por meia dúzia de iluminárias - que por vezes parecem mais alimárias - sem os obrigarmos a ouvir a nossa humilde opinião. Não interessa se é o regime, se é o aborto ou o tratado de Maast... Mass... Maax... Schengen. Se estamos (e dizem-nos que sim) em democracia, quando é que esta se torna verdadeiramente participativa?

October 02, 2004

Ary

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

October 01, 2004

planetas

Dizem que os homens são de Marte e as mulheres de Vénus. Mas há muitas pessoas do Planeta Agostini:

- José Castello Branco
- o primeiro-ministro (não interessa qual, assim que lá chegam tranfiguram-se em habitantes do planeta agostini)
- Lili Caneças
- Manuel Monteiro
- Pinto da Costa
- Paulo Portas
- Maya (não é a abelha)
- pelo menos 50% da GNR
- Gilberto Madaíl
- George W. Bush (se não é de lá está a pensar em invadi-lo)
- o líder da Oposição (vide primeiro-ministro)

Sei que esta lista deveria ser bem mais extensa, mas mais tarde faz-se um update.

a 9ª arte

A web tem destas coisas. Além de quilos de informação útil, contém milhares de bytes que confirmam a imensurável estupidez humana.

No fantástico site do Dr. Manuel Monteiro - digaomanel.com - encontra-se uma maravilhosa peça de banda desenhada: As Aventuras do Sr. Bruxelas! Nunca pensei ser possível ser tão sectário, tão incoerente e tão hipócrita em 12 páginas.

Dá vontade de aproveitar o nome do site - já de si asinino - e dizer: Ó Manel, a estupidez tem limites!