mitos urbanos

Quatro dias em casa, de papo pró ar ou a brincar com os miúdos, sem computadoresinternetetelemóvel tem destas coisas... revelações. A mais surpreendente é a "abertura-fácil".
Qualquer embalagem de atum, coca-cola, leite vigor, fiambre ou gelado-tamanho-alarve vem hoje dotada de uma pequena maravilha do mundo moderno: o Abre-Fácil! Este pequeno e engenhoso gadget permite-nos chafurdar em qualquer produto sem esforço, sem ferramentas acessórias ou suor e palavrões associados. Quase.

Não sei se é falta de jeito, karma ou um azar descomunal mas qualquer tipo de abertura-fácil projectada por dezasseis engenheiros alemães e três designers japoneses transforma-se, nas minhas sapudas mãos, num inferno de gemidos, imprecações, terminando invariavelmente com aquela famosa frase "Toma! Desisto! Ou tentas tu ou vamos à pizzeria!"

As embalagens de gelado, então, parecem ter sido desenhados por Maquiavel soi-même: tira-se a tampa de plástico - facilmente, para enganar o patego - e apresenta-se-nos uma cobertura de alumínio com uma badana saliente exactamente do tamanho certo para oferecer resistência e não partir, e simultaneamente perfeita para escorregar entre os dedos mais vigorosos; após dezassete ou dezoito tentativas para retirar a película, agora com as mãos enregeladas e húmidas, o pobre comprador de Carte d'Or, desesperado, aplica os incisivos equinos na dita badana, puxa e, obviamente, esta rasga-se. Após o urro primevo de fúria, o macho humilhado agarra no primeiro untensílio culinário que esteja à mão - nem que seja um batedor de claras - e ataca a malfadada embalagem como se tratasse de um invasor Vândalo.

Resultado: gelado au poil de chien et autres débris du sol para sobremesa, servido sob o olhar semi-provocador, semi-"só tu mesmo" do cônjuge.

Qualquer dia falo das roscas dos boiões de compota de morango e de como vou candidatar-me ao lançamento do peso (300g "net weight") para as olimpíadas de 2014.