May 16, 2008

em bom português, vão à merda


O Parlamento aprovou hoje o Acordo Ortográfico, ignorando todos aqueles que se expressaram contra ele. O que não me espanta de todo, dada a característica autista deste governozito.

Aparentemente agora vamos todos passar a escrever uma nova língua por decreto, não tendo em conta aquilo que é fundamental na evolução de qualquer língua: os hábitos e costumes dos seus falantes. A desculpa é que há que harmonizar a língua com o país com maior número de utilizadores, o Brasil, por questões de peso internacional do português, por questões económicas e editoriais e, para meu espanto, para adaptar a língua ao modo como esta se fala. Se formos adaptá-la à forma como o português é falado no Brasil, ficamos com tantas grafias como aquele país tem Estados. E vamos ter tantas grafias como quantos países falam português - pelo menos oficialmente.
Segundo este ponto de vista vou poder escrever "Cê acha?" se acordar sertanejo ou "Qué isto?" se me der para o lado de Huambo. Aquilo que não vou poder fazer é dizer "faCto" (porque eu digo o C) ou escrever "correCtamente".

A língua internacional com maior importância no mundo é o inglês e eu não vejo estes disparates acontecer no seio dos países que a falam: qualquer inglês percebe que "aluminum" é "aluminium" e todos os australianos - aborígenes e tudo - sabem que "colour" e "color" é muitas vezes uma questão racial. Estas diferenças ortográficas não impedem que um autor inglês tenha sucesso no mercado americano ou vice-versa, porque aquilo que importa realmente fazer para vender livros é feito pelos editores de ambos os lados do Atlântico (atlantico?): promoção das obras, esforço de marketing, etc.
O facto de agora todos irmos escrever mal português não vai criar um mercado de 200 milhões de leitores para os nossos editores, porque estes vão continuar a não gastar um cêntimo no esforço de venda de uma obra, vão continuar a não procurar parcerias do outro lado do oceano e assim sucessivamente.

Pelo que me diz respeito, vou continuar a escrever português correCtamente, a procurar edições anteriores ao acordo dos autores portugueses e a refugiar-me na leitura de autores estrangeiros na língua original ou, se não a entender, a traduções noutra língua que não a minha, o que é pena.


PS: este acordo não me surpreende de todo, vindo de um governo cujo Primeiro Ministro tem um vocabulário de 200 palavras, a mor das vezes mal aplicadas.

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