classe

Ver o telejornal tem destas coisas: é uma surpresa pegada do princípio ao fim. No episódio de ontem - hoje em dia os noticiários seguem mais ou menos o estilo e a forma das novelas - registava-se o boicote da Greenpeace/Quercus à Vicaima. A primeira cena mostra-nos um grupo de rapazes e raparigas, munidos de oleados amarelos, acorrentados aos portões da fábrica para chamar à atenção do abate ilegal de árvores da floresta amazónica. Mudamos de plano e chega um Mercedes preto daqueles muito compridos, em grande velocidade, parando in extremis antes de esmagar um oleado e o seu conteúdo. A câmara alarga o plano para permitir ver a saída do tal veículo de um senhor já idoso e avermelhado de ira, que se dirige de imediato para o operador - provavelmente desagradado com ângulo em que está a ser capturado - e, para surpresa de todos, PIMBA! afinfa-lhe um estaladão de se lhe tirar o chapéu. A multidão (há sempre uma) segura-o para não haver "replay", vendo-se em fundo um agente da GNR, calmo e sereno como só a Autoridade pode, observando a cena bovinamente. Não contente, o dito senhor grisalho e avermelhado grita alguns impropérios para maiores de 18 e tenta ainda pontapear algum pobre desgraçado incauto.
A cena muda de novo, agora com o registo das outras equipas de filmagem, onde se pode ver o dito afinfar de vários ângulos e com diferentes bandas sonoras.

Uma verdadeira novela mexicana.

Primeira conclusão: a classe e nível dos empresários deste país, pelo exemplo apenso, é digna da Pedreira dos Húngaros.
Segunda conclusão: a Autoridade continua a ser cega quando estão envolvidas "personalidades", como sempre foi. Ou isso, ou então as palas dos bonés têm de ser redesenhadas, porque os pobres dos agentes não vêm um palmo à frente da dita.

Espero que a reportagem não passe no Euronews, porque se assim for passamos imediatamente para trás da Eslovénia em termos civilizacionais (e ficamos pouco acima da Sérvia-Montenegro).